terça-feira, 17 de julho de 2012

Estado a que chegou a Nação

Excelente artigo de Jacques Amaury, sociólogo e filósofo francês, acerca de Portugal e que merece ser revisto.
Poderiamos sublinhar e por em letra grande, muito do que está aqui escrito.

"Portugal atravessa um dos momentos mais difíceis da sua história que terá que resolver com urgência, sob o perigo de deflagrar crescentes tensões e consequentes convulsões sociais.
Importa em primeiro lugar averiguar as causas.
Devem-se sobretudo à má aplicação dos dinheiros emprestados pela CE para o esforço de adesão e adaptação às exigências da união.
Foi o país onde mais a CE investiu "per capita" e o que menos proveito retirou.
Não se actualizou, não melhorou as classes laborais, regrediu na qualidade da educação, vendeu ou privatizou mesmo actividades primordiais e património que poderiam hoje ser um sustentáculo.

Os dinheiros foram encaminhados para auto-estradas, estádios de futebol, constituição de centenas de instituições público-privadas, fundações e institutos, de duvidosa utilidade, auxílios financeiros a empresas que os reverteram em seu exclusivo benefício, pagamento a agricultores para deixarem os campos e aos pescadores para venderem as embarcações, apoios estrategicamente endereçados a elementos ou a próximos deles, nos principais partidos, elevados vencimentos nas classes superiores da administração pública, o tácito desinteresse da Justiça, frente à corrupção galopante e um desinteresse quase total das Finanças no que respeita à cobrança na riqueza, na Banca, na especulação, nos grandes negócios, desenvolvendo, em contrário, uma atenção especialmente persecutória junto dos pequenos comerciantes e população mais pobre.

A política lusa é um campo escorregadio onde os mais hábeis e corajosos penetram, já que os partidos cada vez mais desacreditados, funcionam essencialmente como agências de emprego que admitem os mais corruptos e incapazes, permitindo que com as alterações governativas permaneçam, transformando-se num enorme peso bruto e parasitário. Assim, a monstruosa Função Publica, ao lado da classe dos professores, assessoradas por sindicatos aguerridos, de umas Forças Armadas dispendiosas e caducas, tornaram-se não uma solução, mas um factor de peso nos problemas do país.

Não existe partido de centro já que as diferenças são apenas de retórica, entre o PS (Partido Socialista) e o PSD (Partido Social Democrata), de direita, agora mais conservador ainda, com a inclusão de um novo líder, que tem um suporte estratégico no PR e no tecido empresarial abastado. Mais à direita, o CDS (Partido Popular), com uma actividade assinalável, mas com telhados de vidro e linguagem publica, diametralmente oposta ao que os seus princípios recomendam e praticarão na primeira oportunidade. À esquerda, o BE (Bloco de Esquerda), com tantos adeptos como o anterior, mas igualmente com uma linguagem difícil de se encaixar nas recomendações ao Governo, que manifesta um horror atávico à esquerda, tal como a população em geral, laboriosamente formatada para o mesmo receio. Mais à esquerda, o PC (Partido comunista) menosprezado pela comunicação social, que o coloca sempre como um perigo latente e uma extensão inspirada na União Soviética, oportunamente extinta, e portanto longe das realidades actuais.

Assim, não se encontrando forças capazes de alterar o status, parece que a democracia pré-fabricada não encontra novos instrumentos.
Contudo, na génese deste beco sem aparente saída, está a impreparação, ou melhor, a ignorância de uma população deixada ao abandono, nesse fulcral e determinante aspecto. Mal preparada nos bancos das escolas, no secundário e nas faculdades, não tem capacidade de decisão, a não ser a que lhe é oferecida pelos órgãos de Comunicação. Ora e aqui está o grande problema deste pequeno país; as TVs as Rádios e os Jornais, são na sua totalidade, pertença de privados ligados à alta finança, à industria e comercio, à banca e com infiltrações accionistas de vários países.
Ora, é bem de ver que com este caldo, não se pode cozinhar uma alimentação saudável, mas apenas os pratos que o "chefe" recomenda. Daí a estagnação que tem sido cómoda para a crescente distância entre ricos e pobres.

A RTP, a estação que agora engloba a Rádio e TV oficiais, está dominada por elementos dos dois partidos principais, com notório assento dos sociais-democratas, especialistas em silenciar posições esclarecedoras e calar quem levanta o mínimo problema ou dúvida. A selecção dos gestores, dos directores e dos principais jornalistas é feita exclusivamente por via partidária. Os jovens jornalistas, são condicionados pelos problemas já descritos e ainda pelos contratos a prazo determinantes para o posto de trabalho enquanto, o afastamento dos jornalistas seniores, a quem é mais difícil formatar o processo a pôr em prática, está a chegar ao fim. A deserção destes, foi notória.
Não há um único meio ao alcance das pessoas mais esclarecidas e por isso, "non gratas" pelo establishment, onde possam dar luz a novas ideias e à realidade do seu país, envolto no conveniente manto diáfano que apenas deixa ver os vendedores de ideias já feitas e as cenas recomendáveis para a manutenção da sensação de liberdade e da prática da apregoada democracia.
Só uma comunicação não vendida e alienante, pode ajudar a população, a fugir da banca, o cancro endémico de que padece, a exigir uma justiça mais célere e justa, umas finanças atentas e cumpridoras, enfim, a ganhar consciência e lucidez sobre os seus desígnios".

Depois de ler isto, sente que aumentou a sua determinação em combater esta escumalha que assaltou o País ?  Não se esqueça que os únicos "salvadores da pátria" teremos de ser nós.

5 comentários:

JotaB disse...

A actividade política em Portugal há muito que saiu do controle dos cidadãos.

Aquilo a que chamam de democracia, não passa de uma farsa, tendo os cidadãos como único direito a escolha da escumalha acantonada em listas de malfeitores.

Apenas vislumbro a via da violência para mudar o rumo dos acontecimentos.


"Um homem, quando quer, encontra meios; quando não os acha, cria-os".

"Para males desesperados curas desesperadas".

Mikos disse...

Infelizmente é o que penso tb,isto já não vai lá com conversa.Andamos muitos anos a olhar para o lado,agora só medidas radicais.É preciso voltar a sair para a Rua mobilizar os menos esclarecidos,colar cartazes,encher os muros da cidade de protestos,e denuncias,chamar os bois pelos nomes.

JotaB disse...

“Tudo se discute neste mundo, menos uma única coisa: não se discute a democracia. A democracia está aí como uma espécie de santa no altar, de quem já não se esperam milagres mas que está aí como uma referência, uma referência: a democracia! E não se repara que a democracia em que vivemos está sequestrada, condicionada, amputada, porque o poder do cidadão, o poder de cada um de nós, limita-se, na esfera política a tirar um governo de que não se gosta e a pôr um outro de que talvez se venha a gostar. Nada mais. As grandes decisões são tomadas numa outra esfera e todos sabemos qual é: as grandes organizações financeiras internacionais, os FMIs, a organização mundial do comércio, os bancos mundiais, a OCDE, tudo isso. Nenhuma dessas organizações é democrática e, portanto, como é que podemos continuar a falar de democracia se aqueles que efectivamente governam o mundo, não são eleitos democraticamente pelo povo? Quem é que escolhe os representantes dos países nessas organizações? Os respectivos povos? Não! Onde está, então, a democracia?”

José Saramago - falsa democracia

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=m1nePkQAM4w

Anónimo disse...

Tem a certeza de que o tal Jacques Amaury existe?
Cumprimentos.

Anónimo disse...

Houve em temos quem caracterizou o povo português,e deve-se entender na sua maioria, face à realidade dos últimos trina anos, que este é como "...um rebanho de ovelhas,que vai para onde o pastor lhe dá dom o cajado....". Concordâncias e discordâncias à parte, a realidade nacional impede que se contrarie o fundament daquele dizer. Vejamos um primeio exemplo, e que não o deveria ser se, de facto a maioria deste povo não fosse como ali se caraterizou: após uma dita revolução, que ora extravaça o objectivo deste comentário, que o povo se convence ser quem mais ordena e que é o exercicio do seu "dever cívico" (que não se encontra postado em lado nenhum)- leia-se dever de votar, que faz com que a nação, a pátria ou simplesmente país, seja governada segundo os seus sonhos e considerandos de qualidade de vida e bem estar. Mas, na realidade, em trinta anos corridos, e já na posse de informação das mais variadas fontes, que nada mais faz que votar sempre nos mesmos,variando segundo o impulso vingativo de "...ah! lixaste-me!?!? pois agora ponho lá outro no teu lugar". E este sábio, livre e consciente comportamento, apenas o submete aos mesmos problemas, que só o afectam a ele - o povo (leia-se todo aquele que cumpre a lei e paga os seus impostos, sem subterfúgios). Ninguém tem por conta que quando se elege um concidadão para a função pública de governar o país, nada mais é que um contrato de prestação de um serviço à colectividade, e por conseguinte, se uma das partes não cumpre, e de acordo com a lei, deveria tal contrato ser passível resolução por parte da parte lesada. Sendo ensinado nas Universidades que o poder, em democracia, tem que ser legitimado pelo povo eleitor, então porque quando este verifica que o eleito não cumpre o prometido, sendo tal prometimento a razão da sua eleição,não tem mecanismos de impedir a continuidade dessa eleição. Logo, emerge a suspeita de que a dita democracia só o é na medida que promove proventos de poder e riqueza a uns quantos. O poder não é,nem nunca foi, do povo; não é este que, de facto, determina o estado da nação, pois quando enganado (e é-o de forma maquiavélica), não tem qualquer ferramenta para corrigir o engano. Da esquerda à direita do chamado parlamento, passando pelo centro de comando do mesmo, as discrepâncias surgem como nada mais que uma forma de acreditarmos que ali há quem se interesse pelo povo, pela nação, pelo país...E manobras como a manipulação das vontades e, consequentemente das decições na hora eleitoral, que noutros tempos tanto foi apontado como erro e maldição, são-no agora usadas com basta eficiência e eficáci, e paga pelo erário público. Não acreditam?!? Então que tal um olhar à actividade de agências em tal especializadas, e por tal muito rentáveis, que estudam e determinam expressões e vestuário, dizeres e atitudes, dos ditos políticos profissionais, de forma a "encaixá-los" nos ideais dos eleitores...A diferença entre hoje e ontem é apens no nº de políticos pagos por todos e nas regalias que ora têm...não se esqeuçam que foi Marcelo Caetano que decretou os vencimentos para os políticos e pensões...e embora deposto por facista, nenhum democrata alterou esta decisão fascista e implantou o que seria democrático: o político é pago enquanto exerce a sua função, e forma mais modesta pois somos um país pobre, e a sua reforma só ocorreria na mesma altura que para os demais...e se se reformasse fora da política, pois a exemplo dos demais cidadãos, seri sujeito ao mesmo cálculo que vigora para os seus eleitores...e tal como para os demais cidadãos em exercicio de funções públicas, também eles, saindo desta função, não pderiam exercer profissão em actividades sob as quais havia exercido governança nem sequer outra, pelo mesmo período de tempo que rege a demais funcionalidade pública. Democracia?!?!? Onde? Poder dizer mal do governo e da governança não é democracia...ter voz activa e directa na mesma, por parte dos governados e o direito de serem respeitados pelos governantes, isso sim...é Democracia.