quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O corpo aflito

As ideias fervilhavam na cabeça do Joaquim Silveira. O dia chuvoso tinha-o levado até ao pequeno café onde de cigarro na mão e mata bicho à frente, ía fazendo contas à vida.
Bom, as contas eram sempre as mesmas. Como vivia sem encargos de maior, bastava-lhe o que mensalmente ia recebendo do fundo de desemprego para lhe assegurar todas as manhãs duas cadeiras e uma mesa naquele café.
O joaquim, vendo bem, não era desprovido de todo.
Tinha olfacto, visão e mesmo algum discernimento intelectual. Sabia fazer contas e lia com alguma facilidade. Sentia no entanto que lhe faltava qualquer coisa. Era por assim dizer um corpo aflito em busca de uma oportunidade.
Pelo que ía ouvindo e via na televisão, sabia que o País estava em crise, mas isso não o preocupava demasiado. Até pelo contrário. Pensava com alguma razão que se calhar por causa disso é que agora tinha tempo para pensar nas suas possibilidades para um futuro melhor.
Para ele a experiência adquirida na entrega de pisas ao domicilio dava-lhe algumas vantagens adicionais, pois isso possibilitou-lhe conhecer bem a cidade e em particular a vida quotidiana do bairro do Alto Pina.
Como era evidente, ninguem precisava de saber que a razão do seu despedimento se deveu ao excesso de percursos efectuados para fazer as entregas. O jogo da descoberta de ruas que ía fazendo com outros distribuidores, possibilitaram-lhe alguns novos conhecimentos, é verdade, mas conduziram à situação em que se encontra, que contudo particularmente não lhe desagrada.
O nosso Joaquim, com alguma graça, até costuma dizer que agora tem tempo para pensar!
Embora tenha consciência que não é particularmente dotado nalguns aspetos, isso não o impede de ir fazendo planos para um futuro que pensa estar ao seu alcance.
Com efeito, uma vez que conhece uma parte do País e muito em especial a freguesia em que vive, acha que deve inscrever-se num partido politico e candidatar-se á presidência da junta para depois seguir para a assembleia da republica.
Escusado será dizer que quando o Joaquim deu a conhecer estas ideias ao pessoal do bairro, não viu grande entusiasmo por parte deles. Todos lhe disseram que não está talhado para isso. Aqueles lugares são para gente inteligente e embora não lhe tivessem dito, pensavam que não era o caso.
Qualquer um se teria ido abaixo ao ouvir estas recomendações.
No entanto o Joaquim não sendo inteligente é esperto e sabe que isso é que conta para se ser político. Tem razão.
Consciente que está da sua falta de formação básica e mesmo de alguma dificuldade de entendimento e de ideias pouco esclarecidas, diz para quem o quer ouvir que ao fim e ao cabo seria capaz de fazer o mesmo que os outros que se encontram no governo ou nas juntas de freguesia!
Como podem imaginar a malta desatou a rir. Mas o joaquim não desanimou. Ele sabia que tinha razão. Bastar-lhe-á inscrever-se num partido politico e para que nada falhe, deverá ser no partido socialista.
Ele teve tempo para perceber que tem sido ali que se desenvolve e prolifera gente que não tem mais capacidades que ele. Mesmo assim chegaram a ministros e alguns são deputados.
Vieram-lhe à cabeça alguns nomes que lançou aos seus "amigos".
Então e um Lino ? Risota geral.
E um Pinho ? Risota geral.
E um Mesquita ? risota geral.
E um Vara ? Risota geral.
E um socrates ? Risota geral.
O joaquim quis lançar mais um nome mas na altura não se lembrou. É que nesse dia tinha ouvido dizer a um deputado que as dividas não eram para pagar e que se estava marinbando para isso. Achou graça pois o homem falava com expressões que lhe agradavam e...... tambem era do ps.
Porque é que ele, Joaquim Silveira, não poderia ser deputado e chegar mesmo a ministro, agora que não tem nada para fazer e tem tempo para isso!
Aproveitem o homem. O País não irá estranhar.

Adenda - O joaquim telefonou-nos a pedir para acrescentarmos à lista o Basilio Horta. Até neste pequeno apontamento já revela sentido de Estado.

1 comentário:

JotaB disse...

O País, os Portugueses, ficariam melhor servidos por “Gente Despretensiosa”, disposta a servir e não a servirem-se!
Precisávamos de Gente que visse os Portugueses como Pessoas e não como meros contribuintes / eleitores.

A comunicação social, os jornalistas, têm prestado um péssimo serviço aos cidadãos, funcionando como meros transmissores dos interesses instalados, sejam eles políticos, económico, ou financeiros.

Atrevia-me a sugerir que deixássemos de comprar os jornais e de ouvir as notícias nas rádios e nas televisões. E nunca, mesmo nunca, deveríamos escutar os biltres / comentadores que enxameiam as televisões e que nos levarão, inevitavelmente, à estupidificação / massificação.

E o “Joaquim Silveira” até poderia chegar a ministro! Porque não?!.