quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A aldeia da roupa branca

A pureza dos hábitos e a tranquilidade de vida davam-lhe um encanto especial.
Era ali que se passavam férias e onde se iam buscar os produtos para a cidade.
Havia uma igreja, que calcule-se até lhe chamavam matriz, mas onde ninguém se confessava, porque ......diziam.... não havia pecados.
O lavadouro publico, hoje monumento, era o ponto de encontro. Ali se falava das coisas corriqueiras da vida, pois nessa altura não havia debates.
O ritmo da conversa era o habitual, só alternado com o batimento da roupa na pedra.

Mas....com a evolução natural das coisas a aldeia foi crescendo e começaram a aparecer os pequenos vícios que sempre acompanham o progresso, mas que faziam os nervos em franja á população mais ciosa dos encantos de outrora.
A verdade é que, primeiro as tascas, depois os cafés, a seguir os cinemas, depois as discotecas, tudo foi contribuindo para surgirem os arredores, depois outras aldeias, até mesmo cidades e chegámos finalmente a ter um pequeno País.

Neste processo evolutivo, muita da pureza original foi-se perdendo com o andar dos tempos.
No entanto, na aldeia onde outrora se lavava a roupa e agora existia apenas um lavadouro, as coisas iam de mal a pior.
O local era agora um ponto de passagem e encontro.
Embora o produto continuasse a ser branco, já não fazia o barulho do batimento na pedra.
A aldeia andava transtornada e confusa com a utilização que se se estava a dar àquele espaço.
Diziam que se traficava pó branco, mas eles não lhe conseguiam ver a cor.
Ouviam com frequência falar na lavagem de dinheiro, mas por mais que organizassem piquetes para observar o que se passava, nunca conseguiram ouvir a água a correr.
Aquilo intrigava as gentes da terra.
As noticias que chegavam diziam no entanto que era um comércio frequente em qualquer outra aldeia do agora País.
E que movimentava milhões de contos.
E que havia muita gente a enriquecer.
E que o País ainda podia beneficiar se as autoridades decidissem activar o lavadouro da aldeia pois constava que o dinheiro era sujo e eles tinham ali a possibilidade de o lavar.

O assunto foi apresentado ao Banco Central do pequeno País.
Consta que este ignorou a proposta e decidiu chamar a si essa operação de limpeza.
E procederam bem, pois a quantidade a tratar excedia largamente as capacidades do lavadouro local.
A aldeia pode assim voltar á pureza das tradições originais.
O trabalho sujo ficou na cidade.

Nota - Qualquer semelhança com o Banco de Portugal é pura coincidência.


posto por Carlos Luis

2 comentários:

JotaB disse...

Ocorreu-me o filme “O TRIUNFO DOS PORCOS”, baseado na obra do escritor George Orwell.
Até os animais da quinta foram capazes de se revoltar contra o dono que os tratava com crueldade, apesar de se terem deixado, posteriormente, deixado explorar por um seu igual!
Esse seu igual, como alguns dos nossos iguais, achava que…
“TODOS SÃO IGUAIS, MAS ALGUNS SÃO MAIS IGUAIS QUE OUTROS”

Força Emergente disse...

Caro amigo João
Esta gente já foi longe de mais.
As informações que vamos recebendo só não nos surpreendem porque sabemos bem ao ponto a que se chegou.
O João percebeu bem aquilo que se passa com a lavagem de dinheiro.
Hoje podemos seguramente afirmar que a quase totalidade das chamadas Instituições da República se transformaram em meros instrumentos de utilização duvidosa e na defesa de interesses instalados.
Talvez haja uma e única excepção que é o Tribunal de Contas.
J.Socrates e todos os que gravitam em redor, são traidores que nos vão arruinando e que urge prender e julgar.
Há pessoas que causaram muito menos danos á sociedade e ao País e estão presos!!